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Dia
B Fachada escreve canções que dão mostras de ser recebidas como ciência social, mas o inverso também é verdadeiro. Tem muitos descendentes, mas é mais que a soma dos por si já influenciados. Na música popular portuguesa do século XXI não há outra figura como B Fachada, o nome artístico de Bernardo Fachada, compositor, multi-instrumentista, produtor. Notabiliza-se por um espantoso, e até certo ponto impiedoso, ritmo de edições, através do qual frequentemente subverte o cânone e converte os dogmáticos, baralha as expetativas, coça rótulos, caça ruturas... Entre formatos físico e digital, lançou cinco EP (destacando-se o remoto “Viola Braguesa”, uma reflexão sobre o conceito da tradição e suas traições, ou o split com as Pega Monstro, de 2015, em reflexo da amizade e acuidade estética), três mini álbuns charneira (“Há Festa na Moradia”, que teve edição física em vinil, “Deus, Pátria e Família”, que aparentou parar o país, e “O Fim”, com que anunciou uma pausa sabática) e seis registos de longa-duração (da discussão das questões de moral associadas ao universo infanto-juvenil de “B Fachada é Pra Meninos” e do manifesto de pop batumada que foi “Criôlo” até ao homónimo de 2014, criado com recurso a samples burilados, programações barrocas, batidas apátridas). O seu impacto conjunto testa os limites daquilo que, neste domínio, se entende por produção cultural. Entre 2009 e 2012, fez também parte da banda Diabo na Cruz, com a qual percorreu o país de lés a lés. Fachada está interessado em questionar convenções no seu próprio tom, no seu próprio tempo, nos seus próprios termos. E é isso que também acontece no recente "Rapazes e Raposas", síntese de um percurso único na música portuguesa.